Felipe Pena é conhecido da Galáxia Gutenberg e da mídia por trabalhos importantes na área do Jornalismo e da Literatura. Ousado nos temas, inventivo no modo de desenvolvê-los, está sempre atento às ligações perigosas que o texto mantém com a sociedade.
Autor de vários livros, volta agora com Jornalismo Literário (Editora Contexto, 142 páginas) trazendo à reflexão suas costumeiras obsessões, desta vez, porém, num texto ainda mais leve, que começa com a referência a uma narrativa esclarecedora dos seus propósitos: um jornalista visita o Céu e o Inferno. Nos dois lugares os habitantes têm os cotovelos invertidos. No Inferno, todos morrem de fome porque “não podem levar a comida até a boca”. No Céu, vivendo idêntica situação, “ninguém morre de fome, porque cada um leva a comida à boca do próximo”.
Utilizando a fábula, discorre sobre a urgente solidariedade, dizendo do Jornalismo: “o que deveria ser uma profissão ligada às causas da coletividade vem se transformando, salvo boas e raras exceções, em palco de futilidades e exploração do grotesco e da espetacularização”.
Mas se o verdadeiro Jornalismo é outro, onde está? “Os jornalistas sérios, comprometidos com a sociedade, têm seu espaço reduzido e buscam alternativas. O Jornalismo Literário é uma delas”.
Ele aborda, sem medo, temas complicados. A celebridade, ao ter a casa assaltada, primeiro chama a revista de fofocas e depois a polícia. A violência urbana, tragédia de nossa vida contemporânea, torna-se insumo para a sobrevivência da fama sustentada por banalidades. Vítima e mídia permutam a reificação de profissionais, reduzidos a manipular a desgraça alheia, sem o mínimo propósito social.
Uma das conquistas burguesas foi separar as esferas da vida pública e da vida privada. Mas quando o programa de televisão “flagra” a celebridade dormindo em seu quarto, há uma perigosa cumplicidade, cujos desdobramentos podem ser perigosos.
E que dizer quando outra é a violação e de nada valem os desmentidos de suspeitos ou caluniados, já que a mídia freqüentemente inverte o preceito jurídico ordenador da vida civilizada, levando leitores incautos a achar que, em vez de os acusadores provarem a culpa, são as vítimas que devem provar sua inocência?
Felipe Pena, ainda que durante muitos anos “emparedado nas regras da objetividade da imprensa diária”, concilia como poucos a literatura e o jornalismo. Atrapalho para tantos outros, o doutorado em literatura deu-lhe sólida base teórica para suas reflexões.
Deonísio da Silva - professor, doutor em literatura e escritor, autor de 20 livros
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