A
resenha de João Cezar de Castro Rocha sobre o livro “Geração Subzero”,
publicada na última edição do Prosa & Verso, pode ser lida com uma mistura
de alívio e apreensão por aqueles que apreciam a literatura de entretenimento
no Brasil. Começo pelo alívio: seria uma enorme incoerência que uma coletânea
de autores congelados pela crítica fosse elogiada justamente por um crítico de
ofício. Caso isso acontecesse, que credibilidade ela teria junto aos leitores?
Entretanto,
apesar de reconhecer méritos na crítica de Rocha, também devo apontar seus
equívocos. O primeiro deles está na metodologia. Em vez de se debruçar sobre
todos os contos da coletânea – como fez Felipe Charbel na resenha sobre a
revista Granta – Rocha dedicou mais da metade de suas linhas aos conceitos
expressos na introdução do livro. Ao considerar a conceituação anacrônica,
argumentou que ela se apoia em um falso dilema entre narrativa e
experimentação, pois, segundo ele, “a novidade mais relevante da literatura brasileira
refere-se à superação desse falso dilema.”
Ora,
a premissa em si já traz uma contradição: afinal, se o dilema é falso, como a
sua superação poderia ser relevante? O fato, no entanto, é que o dilema é
verdadeiro e ainda não foi superado. Basta observar a produção literária
contemporânea para perceber que boa parte dos autores incensados pela crítica
universitária continua refém do experimentalismo, sem a preocupação de
construir personagens e tensões, conforme também constatou Felipe Charbel em
sua resenha sobre os contos da Granta brasileira.
Aliás,
o poder da crítica universitária é outro tema levantado por Rocha que o leva a
uma contradição. Ou melhor, a um ato-falho. Embora afirme que tal poder deixou
de existir há décadas, o crítico vale-se de sua posição acadêmica para decretar
que a coletânea “Geração Subzero” deveria ter sido publicada sem qualquer
reflexão. Ou seja, ele sugere que o entretenimento dispensa o diálogo com o
pensamento sobre a literatura.
Paro
por aqui. Um organizador de coletânea com responsabilidade deve parabenizar o
crítico pela disposição em analisar textos que são estranhos ao seu universo de
estudos. Contudo, ele também não pode deixar de se surpreender com a
disparidade de métodos do mesmo crítico em suas análises. Ou, para aplicar o
clichê que tanto o incomoda, com a utilização de dois pesos e duas medidas,
conforme se pode depreender deste pequeno trecho do texto publicado
recentemente por Rocha em um jornal paulista: "No espaço de uma resenha não posso fazer justiça
aos excelentes 20 textos escolhidos (para a Granta)."
A pergunta que faço é simples: pode-se fazer justiça aos
20 textos escolhidos para a Geração Subzero através da análise de apenas
quatro? Isso sem mencionar que tal análise foi feita a partir de preceitos
formalistas, observando-se erros de revisão e estrutura linguística, sem levar
em conta os enredos.
O professor Rocha
já conquistou seu espaço na academia e na crítica com méritos e louvor. É um
estudioso celebrado, com obras importantes e participações em eventos de
destaque, como a FLIP e as bienais do Rio e São Paulo. O próximo passo, porém,
exige que se dedique a aprimorar a capacidade de se despir de seus preconceitos
com a literatura de entretenimento. No fundo, é o que importa, pois crítica
não pode ser sinônimo de descaso com nenhum gênero literário.
Mesmo
que seja apenas para congelá-lo e manter o alívio dos leitores.
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