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Escritor, psicólogo, jornalista e professor da Universidade Federal Fluminense. Doutor em Literatura pela PUC-Rio, Pós-Doutor em Semiologia pela Université de Paris/Sorbonne III e ignorante por conta própria. Autor de doze livros, entre eles três romances, todos publicados pela ed. Record. Site: www.felipepena.com

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Crônica de um de meus alunos na Oficina da Estação das Letras

CRÔNICA PARA UM ENFERMO
Fiquei sabendo, pela caneta da nossa eficiente Roberta, que o “nosso querido mestre encontra-se acamado”. E que acamou-se sob o nome de Emanuel Villanova. Fiquei preocupado e disparei alguns telefonemas para tentar saber de detalhes. Queria saber se era grave, se estava sendo bem assistido. Teria família ou não teria família?. Teria amigos ao seu lado? Queria levar-lhe alguma ajuda, por modesta que fosse.
Eu já me encontrei em situação semelhante, isolado do meu mundo, esquecido em um hospital frio, cheirando a clorofórmio, sem uma palavra de consolo, sem alguém que me pudesse estender uma colher com uma sopinha quente, um biscoito mergulhado num café com leite. Sei como é duro sobreviver quando se está só e abandonado.

Não obtive resultado com os telefonemas. Fiquei absorto em meus pensamentos vendo a situação agravar-se e eu aqui sem fazer nada. Horrorizado. Finalmente pensei: mas se o Mestre teve forças para escolher um pseudônimo, o mal não deve ser assim tão grave! E passei a concentrar-me no verdadeiro problema. Como foi que a Roberta descobriu que Villanova era o mestre? Há quanto tempo já saberia? Quem mais saberia? Por que é que eu não sabia? Eu, que passei semanas debruçado sobre listas, tabelas e gráficos tentando descobrir o que era o que e quem era quem. Eu, que não prestava atenção nas aulas para observar sinais e gestos, analisar sorrisos, contrações de lábios, levantar de sobrancelhas, ligar o não sei quem com o não sei qual para descobrir qual seria o quem e quem seria o qual?

Vem a Roberta e , com um estalar de chicote, desvenda o mistério.
Mas vejo que fugi ao meu escopo. Minha intenção era levar conforto ao nosso querido mestre. Espero que ele já se encontre junto aos seus e que esteja junto a nós na próxima quinta feira. E com isto espero também ter atendido à sugestão da Roberta – que para mim é uma ordem- de preparar uma crônica inter-semanal e fazer com que o mestre se orgulhe da laboriosidade dos seus alunos.
Brava, Roberta!

Severino MandacaruPS: para manter os leitores informados, meus alunos escrevem sob pseudônimos. Daí essa obsessão por tentar descobrir quem é quem. Detalhe: Severino erra em suas conclusões. Att, Felipe Pena