Prólogo
Por que estamos aqui? Sei lá! Culpa dele, só dele. Responde aí, Carlinho! Ele não fala, ficou mudo. Fala, Carlinho! Conta a nossa história. São dez anos. Conta tudo, desde o começo. O primeiro encontro, o vinho, as flores, o beijo. Não, o beijo não. Disso ele não lembra mais. Depois de um tempo só ficam aqueles estalinhos de boa noite, como dois compadres siberianos. E as promessas, claro.
Conta pra ela, Carlinho! Como não prometeu nada? Cadê o cara que abria a porta do carro, que elogiava o vestido, que recitava poesia no ouvido, que me olhava com fome e enfiava a língua na minha garganta? Você inteiro foi uma promessa. Ninguém avisou que tinha prazo de validade.
É por isso que estamos aqui, doutora. Eu te chamo de doutora ou pelo nome mesmo? Então prefiro doutora. A senhora pode me chamar de Olga. Não gosto de formalidades. Não é, Carlinho? Fala, Carlinho! Isso aqui é pra nós dois. Terapia de Casal. Pra mim e pra você, entendeu? Continua contando!
Pula pro apartamento. Não é sexo, Carlinho! Quer que eu fale de prazo de validade outra vez? Fala do apartamento, quando fomos morar juntos. Eu sei, você não me convidou. Meus sapatos é que invadiram o teu closet, os vestidos se apossaram dos cabides e as blusas invadiram as gavetas. Pra que você precisava de tantas camisas listradas? E a coleção de calças de lã? No Rio de Janeiro, Carlinho!? Você não convidou, mas também não desconvidou. Outra promessa.
Claro que era uma promessa. Fiz comidinha, arrumei a cama, até lavei a louça. Uma esposa vitoriana, que nem a tua mãe, a tua avó e toda a italianada da tua família. Como não era esposa? Essa era a maior das promessas.
Você era perfeito, Carlinho.
Quem sou eu
- Felipe Pena
- Escritor, psicólogo, jornalista e professor da Universidade Federal Fluminense. Doutor em Literatura pela PUC-Rio, Pós-Doutor em Semiologia pela Université de Paris/Sorbonne III e ignorante por conta própria. Autor de doze livros, entre eles três romances, todos publicados pela ed. Record. Site: www.felipepena.com
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
12 comentários:
"Você inteiro foi uma promessa. Ninguém avisou que tinha prazo de validade".
É um bom sublinhado...
"Fiz comidinha, arrumei a cama, até lavei a louça. Uma esposa vitoriana, que nem a tua mãe, a tua avó e toda a italianada da tua família." Hahahaha. Adoro a Olga!
Eu comprei o livro por causa do prólogo. Estava na livraria, descobrindo livros brasileiros de autores que eu desconhecia, quando deparei com esse título curioso. Comecei a ler o prólogo e pronto, fui vencido. Mas não comprei na época. Dias depois, passando na feira de livros da Carioca, vi a capa. E abrindo, uma promoção: 10 reais. Foi destino. Falta só eu ler (depois da minha mãe, já que ela se apossou do livro...).
http://ph.gomes.zip.net
Vou comprar correndo...Amei!
Abços
Todas as promessas têm prazos de validade. E não seria diferente com a mais famosa das promessas não cumpridas. Quer dizer: não cumprida nos "moldes românticos", do plin plin, rs. Por isso gosto do Antonio. Ele encarna aquilo que todos nós somos diante do Amor, num só tempo, num só corpo. Somos curiosos e covardes. Só ele sabe/soube ser perfeito, porque só ele não foi marido.
Nossa! Eu cheguei aqui por acaso e encontro o autor do livro que uma amiga tanto falou. Mais do que isso: meu professor da UFF.
Como diria um amigo meu, definitivamente, o mundo tem 11 pessoas e você é a décima primeira! rs
O prólogo já é bastante interessante. Faço questão de ler o livro.
Parabéns, Felipe!
Adorando !!!
Falta pouco p/ acabar, sp q tenho um tempinho leio, leio e leio, qdo acabar vou começar o do ANALFABETO...
Bjksssss e sucesso !!!
Ah, já ia me esquecendo, me interessei através da sua entrevista no SEMCENSURA.
Bjkssss de novo
Hummm, mais uma vez: Não sei pq mas gosto e me identifico c/ a Virgínia. Bj
Vocês me fazem um homem mais feliz com seus comentários. Obrigado.
Olá Felipe Pena, estou entrando em contato para dizer que estarei divulgando seu livro no meu blog. Faço parte de uma iniciativa chamada DESAFIO NACIONAL, que tem por objetivo incentivar a leitura nacional, o que sai da nossa terra. Atenciosamente, Clarisse
Postar um comentário