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Escritor, psicólogo, jornalista e professor da Universidade Federal Fluminense. Doutor em Literatura pela PUC-Rio, Pós-Doutor em Semiologia pela Université de Paris/Sorbonne III e ignorante por conta própria. Autor de doze livros, entre eles três romances, todos publicados pela ed. Record. Site: www.felipepena.com

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Comunicação é Ciência ? (Editorial da Revista Contracampo nº 19)

A cada nova edição da Contracampo questiono os objetivos das publicações acadêmicas em nossa área e, consequentemente, o próprio papel dos pesquisadores que nela publicam. Por que alguns insistem em chamar de ciência um campo cujas reflexões se aproximam muito mais da arte? Até que ponto os critérios balizados pela Capes e CNPQ se aplicam à Comunicação? As revistas não deveriam ter uma interlocução maior com setores de fora da universidade? Quem, de fato, lê o que publicamos? Por que utilizamos uma linguagem pomposa e hermética se o que queremos é, em última instância, comunicar os resultados de nossas pesquisas?

A maioria de nós leciona em programas de pós-graduação de universidades públicas, o que nos obriga a ter um nível mínimo de produção e a posterior veiculação em revistas indexadas. Este sentido pragmático talvez nos impeça de dar mais atenção às questões acima, mas creio que não podemos deixar de abordá-las. Da mesma forma, sei que há um grande esforço para consolidar o campo como área de conhecimento, capitaneado por nossos mais experientes professores, o que merece todos os elogios e louvações. Entretanto, empreender um trabalho questionador é uma forma de enriquecer esse mesmo esforço e não de inviabilizá-lo.

Já ouvi críticas a estes questionamentos sob o argumento de que não passam de um reducionismo, uma visão limitada de nossa ampla produção. Para tal argumento tenho duas respostas. Primeiramente, basta uma consulta quantitativa às principais publicações da área para ver que a maioria dos textos têm caráter ensaístico-teórico, e nem mesmo a maior parte daqueles que se propõem empíricos apresenta dispositivos propriamente “científicos”, seja no sentido das refutações de Popper, das induções de Bacon ou de qualquer outro método que mereça tal epíteto .

Em segundo lugar, se estou sendo reducionista, esta é a natureza de minha própria argumentação, que é teórica, levanta uma hipótese. Se vou teorizar sobre determinado assunto, significa que quero enquadrá-lo sob um ponto de vista específico. Mesmo que para isso utilize os mais diversos conceitos e as mais diversas metodologias. Ao final, meu trabalho acaba sendo reduzir os tais conceitos e as tais metodologias aos limites do próprio quadro teórico que proponho.

Então, para que produzir teorias nas mais diversas áreas do conhecimento? Resposta: para aprofundar o conhecimento sobre elas. Por mais paradoxal que pareça, reduzir também é ampliar. Quando faço um recorte sobre um tema, meus métodos de análise promovem questões que podem servir para incentivar a criação de outros métodos, que vão produzir novas questões e assim por diante. A pertinência de qualquer debate está nas perguntas, não nas respostas.
Com tal intenção, rabisquei as linhas acima. Provavelmente, incorro nos mesmos erros que aponto, mas espero contribuir para ampliar as discussões sobre o assunto. Nas páginas da Contracampo 19, o leitor encontrará textos ligados às mais diversas orientações teóricas. Todos merecem a sua atenção.

Boas reflexões!

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