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Escritor, psicólogo, jornalista e professor da Universidade Federal Fluminense. Doutor em Literatura pela PUC-Rio, Pós-Doutor em Semiologia pela Université de Paris/Sorbonne III e ignorante por conta própria. Autor de doze livros, entre eles três romances, todos publicados pela ed. Record. Site: www.felipepena.com

sábado, 18 de julho de 2009

Entrevista sobre a Literatura Brasileira

1. Em que aspectos a atuação acadêmica/universitária pode estar sendo nociva à leitura e à literatura?
Como disse na entrevista ao Globo, são os mestres e doutores que prejudicam a formação de um público leitor no país. A linguagem da academia é produzida como estratégia de poder. Quanto menos compreendidos, mais nossos brilhantes professores universitários se eternizam em suas cátedras de mogno, sem o controle da sociedade. As teses e dissertações seguem regras rígidas justamente para garantir essa perpetuação de poder. E isso se reflete na literatura.


2. Qual a responsabilidade dos escritores brasileiros nisso?
A literatura brasileira contemporânea é elitista e pretensiosa. Os autores (estou generalizando de propósito) não se preocupam com o principal, que é contar uma história. Alguns livros nem história têm, limitando-se a jogos de linguagem, cujo único objetivo é enaltecer um suposto brilhantismo intelectual. E os escritores reclamam que não são lidos. Não são lidos porque são chatos, herméticos e bestas.


3. O que não quer dizer que não sejam boa literatura?
Exatamente. Nunca disse que não eram boa literatura. Só não são acessíveis. Eu leio esses autores, mas tenho doutorado em Literatura. E tenho que me esforçar para ler. Aliás, isso é parte do problema: a academia e uma elite leitora convencionaram que só tem valor aquilo que está na elipse, que força você a encontrar sentido onde poucos conseguem enxergar. Por essa premissa, o que é fácil de ler não tem valor literário. E quem discorda dela é taxado de superficial.


4. Como você vê o momento atual de nossa literatura?
Com a preocupação expressa na resposta anterior. Mas sei que há exceções e, por isso, sou um otimista. O paradigma do biscoito fino é uma falácia de quase cem anos na cultura deste país. É o argumento da exclusão. São os brioches da nossa literatura, difundidos pelas Marias Antonietas encasteladas na linguagem empolada do hermetismo. Mas a guilhotina vai chegar.

5. O que pode ser feito para melhorar o quadro?
Criar um grupo do meio na literatura nacional. Algo entre a chatice dos experimentalismos de linguagem e o extremo oposto das narrativas mal elaboradas. Precisamos valorizar escritores que escrevam para um público mais amplo, mas que também tenham preocupações com a boa escrita. Em suma, que sejam capazes de elaborar enredos ágeis, escritos com simplicidade e fluência. Que contribuam para a formação de um público leitor no país.


6. Qual é a sua contribuição pessoal nesse sentido da melhoria e do aperfeiçoamento de nossas letras?
Isso é o leitor que vai dizer. Os quatro primeiros capítulos do meu romance, que é uma ficção jornalística, estão disponíveis no site www.felipepena.com E o próximo lançarei em março.

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